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Autor: Carlos Romão
Data: Domingo, 24 de Novembro de 2006

Visto no blogue "Cidade Surprendente" em http://cidadesurpreendente.blogspot.com/2006_11_01_cidadesurpreendente_archive.html

"A livraria que tem Camões como patrono

Segundo uma crónica de Germano Silva, publicada no Jornal de Notícias há uns dois anos, Luís Vaz de Camões nunca terá passado pelo Porto. Era homem de outros percursos, doutras paragens semeadas de aventuras que aqui não encontraria. A cidade, também, pouco o refere. Deu-lhe o nome a uma rua, ergueu-lhe um interessantíssimo, mas modesto, busto desgrenhado, virado ao vento sul do Atlântico num recanto da Avenida Brasil, e comemora-o no cunhal da Livraria Latina, casa de letras que o assumiu como patrono.

O Camões da Latina, que já aqui vimos, despeitado, a meter conversa com a figura feminina que se encontra na esquina oposta, do outro lado da Rua de Santa Catarina, é, imaginem, da autoria de alguém que, tendo formação de escultor, ficou conhecido como um dos pintores que melhor soube retratar o Porto, o aguarelista António Cruz.

Deve-se a Henrique Perdigão, fundador da Latina em 1942, a substituição da figura de Mercúrio - companhia inadequada, na opinião do editor-livreiro - pela do nosso maior poeta, na fachada da livraria.


Este preciosismo, que acabou por constituir uma boa homenagem da cidade ao nosso maior poeta, não é de admirar se nos aproximarmos um pouco de Henrique Perdigão. Era um literato, decidido, inovador, pleno de iniciativa, que dedicou vinte anos da sua vida à elaboração do Dicionário Universal de Literatura, obra prestigiada tanto em Portugal como no Brasil, onde ficou conhecido como Dicionário Perdigão.

Para comemorar a inauguração da livraria, Henrique Perdigão organizou um concurso literário, o primeiro realizado em Portugal. Abria assim também, de forma inédita, as edições da Colecção Latina que, em menos de três anos, poriam nos escaparates das livrarias quarenta novas obras - um prodígio para a época - de autores como António Botto, Teixeira de Pascoaes e João Gaspar Simões, entre outros.


Henrique Perdigão considerava a Latina como «a mais moderna organização livreira e editorial do país.» Ali podiam encontrar-se «livros de tudo e para todos, sobre Letras, Filosofia, Artes e Ciências e ainda tratados de Medicina, Cirurgia, Engenharia, Direito, indústrias têxteis metalúrgicas e eléctricas, contabilidade comercial, etc, etc.» Vendia ainda, por baixo de mão e com risco não despiciendo, livros políticos e outros proibidos pelo regime de Salazar, que incluíam autores como Jorge Amado, Raul Rego, Henrique Galvão, Cunha Leal e pasme-se... duas obras de Aquilino Ribeiro, Quando os Lobos Uivam e Príncipes de Portugal.


A ele se deve a iniciativa da primeira página literária nos jornais do Porto, publicada em O Primeiro de Janeiro sob a direcção do jornalista Jaime Brasil. Mais tarde, O Comércio do Porto e o Jornal de Notícias seguir-lhe-iam as pisadas.


Morreria prematuramente, em 1944, numa das suas deslocações ao Brasil, país com que mantinha uma estreita relação afectiva, para comprar livros que divulgaria em Portugal. Sucedeu-lhe o filho, Mário Perdigão, que manteve a Latina no roteiro bibliográfico portuense durante 53 anos.

Uma das características da tradicional livraria era o enorme pé-direito, preenchido com livros até ao tecto, que, fazendo a delícia dos turistas, «impedia o acesso do público às obras», segundo Henrique Perdigão, neto homónimo do fundador, que assumiu a decisão da renovação da Latina há dois anos. As obras foram ditadas por «razões comerciais e de estabilidade da estrutura do edif
ício», acrescentou.

O novo espaço, que conjuga a leveza e a elegância permitidas por materiais como a madeira e o aço, mantém a emblemática parede, agora acessível, pejada de livros. Entretanto a livraria duplicou os títulos e aumentou a aposta nos livros temáticos. A avaliar pelas declarações do proprietário, a Latina está de novo, como quando foi fundada, com o olhar posto no futuro."
Autor: "O Homem do Leme"
Data: 4 de Novembro de 2005
Visto no blogue "Die Otelo Pruzident" em http://prusidente.weblog.com.pt/arquivo/213549.html

"Livrarias multiplicam-se apesar da crise

Os hábitos de leitura dos portugueses permanecem reduzidos. O preço do livro continua a ser o argumento mais utilizado para não o adquirir. Mas os livreiros do Porto insistem em contrariar a tendência, abrindo mais livrarias, desafiando a concorrência de cadeias como a Fnac, apurando o stock, complementando-o com actividades paralelas de incentivo e divulgação da literatura, apostando ferozmente no atendimento personalizado.

Hoje, a livraria Latina, na Rua de Santa Catarina, no Porto, reabre as portas numa casa elegantemente restaurada e ampliada. «Hoje, há menos gente a estudar, mas mais gente a ler. Aliás, só não lê quem não quer», defende, optimista, o proprietário, Henrique Perdigão, rejeitando a teoria do preço inflaccionado. «O que é que não é caro, actualmente?»"

Autor: José Carlos Pereira
Data: 14 de Novembro de 2005
Visto no blogue "Incursões" em http://incursoes.blogspot.com/2005_11_01_incursoes_archive.html

"O prazer da livraria e uma sugestão

Gosto de ir às livrarias. Perco-me na consulta dos índices e nas revistas que trazem recensões de livros. Na maioria dos casos, as livrarias não dispõem de um espaço para se estar calmamente a fazer tais consultas. Um novo conceito de livraria já entrou em Portugal a proporcionar tempo de fruição descontraído. Sei que já me referi à Livraria Latina, aproveitando um post de Rebeldinho Anaximandro. Mas, sem preocupações publicitárias, hoje não posso deixar de referir essa livraria que, encimando o seu frontispício com um busto de Camões, lembra a saga heróica dos latinos. Estive lá toda a manhã. Senti a tranquilidade que o prazer do livro devolve.

A remodelação feita pelo nosso amigo Henrique Perdigão imprimiu à livraria Latina a ideia de um espaço para, tranquilamente, poder saborear o prazer de folhear e consultar livros. Vai, inclusivamente, disponibilizar a possibilidade de tomar café durante o tempo em que se frui o prazer de “ver” um livro.

Este post nasce de um impulso: prestar o meu reconhecimento a Henrique Perdigão. Num tempo em que as livrarias estão ameaçadas pelos supermercados, o Henrique resistiu à tendência para baixar os braços e, com o seu investimento, prestou um serviço à cultura.
Possivelmente, Henrique Perdigão não terá conhecimento desta pequena homenagem que lhe presto. E isso pouco interessa: afinal é apenas um desabafo que senti necessidade de partilhar com os meus amigos incursionistas."

Autor: desconhecido
Data: 2 de Novembro de 2005
Visto no Jornal de Notícias em http://jn.sapo.pt/

"Livraria Latina cresce em espaço e títulos

Depois de 163 dias de interregno para obras, a livraria Latina, que desde Maio habitou um espaço emprestado na Rua 31 de Janeiro, regressa hoje a casa, na Rua de Santa Catarina. O espaço, quase irreconhecível, com a fachada a recuperar a dourada traça original, reparte-se agora em três pisos - de todos vê-se a rua -, e ameaça crescer.

«Depois de ter visto a obra concluída, percebi que a galeria tem um potencial muito maior do que aquele que tinha, inicialmente, imaginado», confessa Henrique Perdigão, proprietário e neto do fundador homónimo da livraria, inaugurada em 1941. A Latina cresceu em espaço e em títulos. «Duplicámos o stock e aumentamos a aposta nos livros temáticos - a única área em que não éramos fortes.» 

Cresceu também na acessibilidade do público às obras. «Tínhamos uma parede com cerca de quatro metros de altura, que fazia a delícia dos turistas, mas que impossibilitava o consumidor de chegar ao livro.» O proprietário não teme a crise. «Devia haver mais livrarias na Baixa. Só não lê quem não quer. E acho que as pessoas lêem mais.»"

Autor: Sérgio Almeida
Data: 25 de Fevereiro de 2007
Visto no Jornal de Notícias em http://jn.sapo.pt/2007/02/25/cultura/multidao_quis_vero_senhor_professor.html

"Multidão quis ver o 'senhor professor'

A popularidade e a proverbial resistência física de José Hermano Saraiva conheceram ontem dois novos flagrantes exemplos. Ao longo de quatro (!) horas, o mediático historiador transformou o que se previa ser uma pacata sessão de autógrafos na Livraria Latina, no Porto, numa impressionante manifestação de carinho que qualquer Nobel, por certo, não desdenharia.

«É uma comoção extraordinária. Já perdi a conta ao número de exemplares que assinei», confessou o comunicador, de 87 anos, sensibilizado em particular «com os pais que compram livros para os filhos que ainda nem sequer sabem ler» e indiferente «às calosidades que começam a aparecer nas mãos» ao fim de tantas horas a assinar autógrafos.

A adesão popular foi tal que a gerência da livraria se viu obrigada a antecipar em meia hora o início. Um paliativo que não evitou as longas filas de espera nas horas seguintes. Com o mais recente livro do autor na mão - 'Lugares históricos de Portugal', uma edição das Selecções do Reader's Digest -, a multidão enfrentou o tempo que tinha pela frente sem o mínimo sinal de enfado. 
«Por maior que seja, a espera vale a pena», resumiu Clara Esteves, uma secretária de 53 anos disposta a esperar «o tempo que for preciso» para oferecer o novo livro do 'senhor professor' à filha, caloira do curso de História.

Para Hermano Saraiva, a sessão teve também um significado simbólico adicional. Em 1943, com o curso de História terminado há pouco, venceu o primeiro concurso de contos promovido pela Latina, graças ao livro
'Este vento vindo dos montes', baseado nas cartas apaixonadas escritas àquela que viria a ser a sua mulher. Com os três mil escudos ganhos, pôde reunir algum dinheiro que o ajudou "a casar e a mobilar a casa".

«Não é bem um regresso, porque, sempre que venho ao Porto - e são muitas vezes -, faço questão de cá vir, pois sinto-me em casa», sublinhou.

Proprietário da Latina, Manuel Perdigão, não ficou surpreendido com a receptividade, porque 
«é uma figura com um perfil único».

A emblemática livraria está a comemorar os 75 anos e, até fim do ano, vai levar por diante um calendário cultural intenso, com mostras e debates em destaque."

Errata: O proprietário da Latina é Henrique Perdigão e não Manuel Perdigão. A Livraria Latina comemora 65 anos e não 75. :)